O bibliófilo aprendiz - Resenha crítica - Rubens Borba de Moraes
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O bibliófilo aprendiz - resenha crítica

O bibliófilo aprendiz  Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Estilo de vida

Este microbook é uma resenha crítica da obra: 

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-6258-729-0

Editora: Casa da Palavra

Resenha crítica

Por que colecionar livros antigos?

Quando analisamos a evolução humana e o progresso do mundo, podemos perceber que os países mais desenvolvidos dão muito valor a objetos sem aparente utilidade. Com o progresso material, surgem a cultura, o amor e o respeito por coisas tidas como inúteis para um pensamento meramente utilitário.

Então, são construídas bibliotecas, museus e coleções particulares de arte. Isso não significa que apenas os povos mais ricos são capazes de apreciar a beleza da arte, mas é um índice de progresso importante de levar em conta. Não se trata apenas de medir o acúmulo de bens materiais, mas também o orgulho de as pessoas preservarem a própria história e a maneira com que expressam sua cultura.

O estudo das maiores bibliotecas do mundo demonstra que elas começaram por meio de coleções particulares, que foram se enriquecendo com a compra ou doação de coleções, beneficiando assim verdadeiros patrimônios nacionais em países de todos os cantos do planeta. 

Disseminar a importância de preservar o passado é fundamental para que as futuras gerações entendam os passos dados pela civilização, sejam eles certos ou errados. Colecionar livros antigos é mais um ato cultural que diferencia o ser humano das outras espécies, já que esta prática deixa claro como é importante impedir que nossos antepassados sejam esquecidos com suas formas de expressar sentimentos, histórias, paixões e costumes. 

A bibliofilia não é somente um passatempo de homens cultos ou um hobby inocente, tampouco atividade destinada para alguns espertos que acumulam dinheiro juntando livros. Trata-se de uma prática de benemerência, uma linda atitude que preserva o que temos de melhor. 

Colecionar o quê?

O dom de colecionar funciona como compensação para um complexo. É um hábito que, ao longo dos anos, ajuda os seres humanos a suportarem guerras, problemas econômicos, desejos frustrados, amores perdidos e a certeza da morte. É um processo semelhante ao de escrever poemas, pintar quadros, esculpir ou se dedicar a coleções de forma terapêutica. 

Há quem colecione selos, discos, botões, soldadinhos de chumbo, figurinhas, e até caixas de fósforos. E por que não livros? Cada um deles carrega histórias, teorias e filosofias incríveis, capazes de nos deixar por dias pensando sobre novas formas de interpretar o mundo ao redor. 

Todo bom colecionador sabe a importância que cada título tem, mesmo que ainda não tenha chegado a hora daquele exemplar ser lido com a atenção devida. Mas há quem não entenda o ato e o trate como um costume bobo e sem sentido.

Da mesma forma, existem pessoas incapazes de sentir a arte. A bibliofilia não deixa de ser um costume artístico, e precisa estar combinada com o conhecimento para ser concretizada como uma verdadeira criação humana. É algo muito maior do que um passatempo de pessoas endinheiradas. 

Se você é uma daquelas pessoas que não empresta e não abre mão dos exemplares de sua pequena biblioteca, tem mais ou menos a noção de como é importante guardar tantas histórias e mundos particulares em um lugar adequado para a preservação da cultura humana.

Livreiros e a arte de comprar

O livreiro é um comerciante e a livraria é sua casa de fazer negócios. Tem como principal objetivo ganhar dinheiro com a atividade, como faz qualquer empresário de outro ramo. 

Ainda assim, muitos bibliófilos se esforçam para pechinchar e ficam indignados ao saberem que um profissional dedicado a comprar e vender livros pagou muito barato por um exemplar raríssimo, mas quer repassá-lo por um preço acima da média. Essa é uma atitude bastante infantil, já que todo comércio se baseia nessa diferença para se manter em atividade. 

A arte do bom livreiro consiste em servir de intermediário entre quem quer vender e não sabe para quem, ou quer comprar mas não sabe onde encontrar o item que procura. Um bom profissional do ramo sabe pagar um preço justo pelas relíquias que encontra, repassando-as por um valor maior para manter seu empreendimento. 

E o livro antigo está sujeito à lei da oferta e da procura, como toda mercadoria no mundo capitalista. Um exemplar antigo é uma mercadoria regulada conforme a oferta e a demanda. Grandes livreiros antiquários oferecem seus livros por preços fixos em catálogos. Raramente eles se enganam, sempre buscando um equilíbrio para não cobrar caro demais, nem ir à falência por realizar vendas muito abaixo do mercado. 

A concorrência entre bibliófilos é pequena, então é comum que as negociações sejam justas, com pessoas que entendem bem do que estão tratando. Ainda assim, há novatos facilmente indignados com os valores de mercado, sem entender bem a mecânica das atividades envolvidas neste processo. 

Bibliofilia de novo rico

Já passamos da metade deste microbook. Segundo o autor, muitos bibliófilos gostam de comparecer a leilões de livros e fazer pessoalmente seus lances por obras raras. Para comprar nesses eventos, é preciso ter uma mentalidade de jogador de pôquer. 

Na maioria dos países, esses eventos possuem preços mais ou menos preparados, com os grandes livreiros combinando de não fazer lances muito expressivos contra amigos e abandonando ao grande público o que não lhes interessa. Nisso, bibliófilos inexperientes pagam muito mais caro do que se tivesse incumbido um livreiro de dar o lance final. 

O próprio Rubens Borba de Moraes relata já ter pagado um valor três vezes maior que o devido por causa da inexperiência. Quem se dedica à coleção de maneira profissional tem a obrigação de aprender a começar a dar seus lances no momento oportuno e parar na hora certa. Isso até a experiência ensinar a desvantagem de comparecer em leilões. 

Lembre-se que a bibliofilia não é um costume destinado a novos ricos, dispostos a gastar dinheiro em leilões. É vocação de amantes da arte, algo que transcende os bens materiais. 

Bicho, mofo e outras calamidades

Vivemos em um país tropical. Essa informação não é irrelevante para os candidatos a colecionadores de livros. O clima brasileiro é nefasto para os livros, especialmente os mais antigos. 

Na maior parte do território nacional, o ar é úmido e quente, facilitando a proliferação de insetos que atacam os livros, além da formação do mofo, danificando o papel e a encadernação. São poucas as regiões do Brasil em que livros podem envelhecer sem serem prejudicados pelas condições do tempo. 

Para isso, são necessárias medidas estudadas por cientistas há muitos anos para eliminar as pragas que assolam os bibliófilos. Os mais antigos indicam pincelar as páginas junto à lombada com ingredientes diversos. Há quem ainda insista em passar querosene nas páginas, deixando-as oleosas e afugentando moscas das folhas impressas. 

Mas, para o autor, as receitas caseiras foram superadas há muito tempo. Para ele, a melhor maneira de proteger sua coleção é usando a substância DDT1, um pesticida moderno. De preferência usando o produto em pó, já que os líquidos mancham os livros e evaporam com facilidade, devendo ser usado apenas nas estantes, espantando de vez as pragas destruidoras de livros. 

Sempre priorizando materiais de boa qualidade. O barato pode sair caro e a bibliofilia impede de economizar para a preservação de seu catálogo. 

Coleção com lágrimas

Existem coleções mais simples, com obras confeccionadas sem muitos cuidados especiais. Em outros casos, os livros possuem tantos detalhes especiais que temos ali uma obra rara, valiosa e de grande carinho por parte do bibliófilo responsável pela coleção.

Nesses casos, é comum sentir ciúmes e não deixar ninguém colocar a mão em suas obras. Quando se trata daquelas difíceis de serem encontradas, é comum ver muito esforço pela substituição ou restauração de páginas que se perdem com o passar do tempo. Tudo para não danificar ainda mais o item tão amado, que vale mais do que bens materiais. 

Quanto mais raro o livro, maior a chance do surgimento de imprevistos. Sem os devidos cuidados, mais páginas são perdidas e mais se danificam os exemplares. E nem sempre é possível consertar problemas expostos pelas obras. 

Há casos, mesmo, em que até as exigências da censura causaram a perda de algumas folhas. Em outras situações, erros graves dos impressores proporcionaram a ausência de algumas folhas, nunca consertadas. Um colecionador dedicado faz o máximo de esforço para sua preservação. 

Afinal, a atividade requer uma dedicação quase religiosa, com atenção a detalhes, muito afeto por cada item guardado e a vontade de contribuir para a disseminação da cultura humana. 

Notas finais 

Livros são encantadores. Quando nos deparamos com coleções numerosas, é gratificante reconhecer o esforço de quem passou tanto tempo se dedicando a montar sua própria biblioteca de um jeito criterioso, cheio de cuidado, dedicação e muita paciência. Com as dicas dadas para os aprendizes de bibliófilo, ficou mais fácil preservar as obras marcantes, para que, em um futuro próximo, sejamos nós os donos de estantes e mais estantes carregadas de histórias impressas em páginas que carregam o pensamento humano.

Dica do 12min

Já que o assunto é colecionar livros, fica a sugestão de conferir o microbook Um teto todo seu, em que a escritora Virginia Woolf reflete sobre a condição da mulher no mundo literário.

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Quem escreveu o livro?

Rubens Borba de Moraes (Araraquara, 23 de janeiro de 1899 – Bragança Paulista, 2 de setembro de 1986) foi um bibliotecário, bibliógrafo, bibliófilo, historiador e pesquisador brasileiro, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, professor, pioneiro da bibliotec... (Leia mais)

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